Na gráfica e na medicina, erros custam caro — mas de formas diferentes
Quem trabalha em uma gráfica conhece bem a pressão de entregar produtos perfeitos. Uma impressão borrada, cores que não correspondem ao solicitado ou um corte mal posicionado geram prejuízo imediato. A diferença é que esses problemas costumam ter solução: retrabalho, reimpressão e, no máximo, um cliente insatisfeito. Na medicina, a realidade é outra. Um erro pode desencadear consequências irreversíveis para o paciente e processos judiciais que duram anos.
De acordo com Gabriel Borduchi, especialista em Seguros de Responsabilidade Civil Profissional para médicos, da Borduchi Seguros, o profissional que atua sem seguro coloca em risco seu patrimônio e sua tranquilidade. “Assim como gráficas investem em qualidade para evitar retrabalhos, médicos precisam investir em proteção para enfrentar riscos inevitáveis.” O seguro de responsabilidade civil garante esse respaldo, funcionando como uma segurança invisível para quem lida diariamente com vidas humanas.
Por que erros médicos têm impacto financeiro muito maior
Enquanto uma gráfica pode refazer um serviço em horas ou dias, um erro médico não tem volta. As consequências vão desde complicações reversíveis até sequelas permanentes ou óbito. Isso transforma cada caso em potencial fonte de ações judiciais que buscam reparação moral e material.
No Brasil, processos contra médicos tramitam em média por cinco a oito anos. Durante esse período, o profissional precisa arcar com honorários advocatícios, perícias técnicas e custos processuais que facilmente ultrapassam dezenas de milhares de reais. Mesmo quando há absolvição, o desgaste emocional e financeiro já ocorreu.
Custos diretos e indiretos de um processo
Os gastos com defesa judicial incluem advogados especializados em direito médico, assistentes técnicos para contestar laudos periciais e despesas com documentação. Em paralelo, surgem custos indiretos: tempo dedicado a audiências, depoimentos e análise de prontuários, além do impacto na reputação profissional.
Pacientes insatisfeitos compartilham experiências negativas em redes sociais e plataformas de avaliação. Esse dano à imagem pode reduzir a procura por consultas e afetar o fluxo de receita do consultório ou clínica. A exposição pública de um processo, mesmo sem condenação, mancha a carreira construída ao longo de anos.
Como o seguro de responsabilidade civil protege o médico
O seguro de responsabilidade civil profissional (RCP) foi desenhado para cobrir exatamente esses cenários. Ele garante ao médico suporte financeiro e jurídico desde o momento em que uma reclamação é formalizada, seja extrajudicialmente ou na Justiça.
A cobertura típica inclui pagamento de indenizações determinadas judicialmente, custos com defesa (advogados e peritos) e despesas processuais. Algumas apólices oferecem também assistência para mediação e acordos, evitando que o caso chegue ao tribunal.
O que avaliar ao contratar um seguro RCP
Nem todas as apólices são iguais. O médico deve verificar o valor da cobertura (importância segurada), que precisa ser compatível com os riscos da especialidade. Cirurgiões, anestesiologistas e obstetras, por exemplo, enfrentam maior exposição e exigem limites mais elevados.
Outro ponto crítico é o tipo de cobertura: claims made ou occurrence. No modelo claims made, o seguro cobre sinistros comunicados durante a vigência da apólice, independentemente de quando ocorreram. Já o occurrence cobre eventos ocorridos durante a vigência, mesmo que a reclamação venha anos depois. Entender essa diferença evita surpresas na hora de acionar a proteção.
Verifique também se a apólice cobre erros de equipe, atuação em hospitais conveniados e procedimentos realizados fora do consultório principal. Médicos que atuam em múltiplos locais precisam de cobertura territorial ampla.
Erros comuns ao escolher seguro RCP
- Contratar cobertura inferior ao risco real da especialidade
- Não verificar se a apólice inclui defesa jurídica completa
- Ignorar cláusulas de exclusão que limitam proteção em determinados procedimentos
Prevenção ainda é o melhor caminho
Assim como gráficas investem em equipamentos calibrados e treinamento contínuo para minimizar falhas, médicos devem adotar protocolos rigorosos de segurança do paciente. Prontuários bem preenchidos, consentimento informado detalhado e comunicação clara com pacientes reduzem significativamente o risco de processos.
A documentação é a principal defesa em litígios. Registros completos demonstram que o atendimento seguiu padrões técnicos e que o paciente foi devidamente informado sobre riscos e alternativas. Isso fortalece a posição do médico em eventual disputa judicial.
Cultura de segurança e gestão de risco
Hospitais e clínicas têm implementado comitês de segurança que analisam eventos adversos e propõem melhorias. Participar ativamente dessas iniciativas ajuda o médico a identificar pontos vulneráveis na própria prática e corrigir antes que virem problema jurídico.
Educação continuada também desempenha papel essencial. Atualizações sobre técnicas, protocolos e legislação mantêm o profissional alinhado às melhores práticas e reduzem a chance de condutas consideradas inadequadas ou negligentes.
Por que adiar a contratação aumenta o risco
Muitos médicos acreditam que só precisam de seguro após o primeiro problema. Essa lógica falha porque apólices claims made não cobrem fatos ocorridos antes da contratação. Ou seja, se o erro aconteceu ontem e o seguro foi contratado hoje, não haverá cobertura.
Além disso, seguradoras avaliam o histórico do profissional. Quem já enfrentou processos pode ter dificuldade para contratar apólice ou pagar prêmios mais altos. Proteger-se antes de qualquer sinistro garante condições melhores e tranquilidade desde o início da carreira.
Investimento que protege patrimônio e paz
O custo mensal de um seguro RCP é menor que o valor de uma única perícia judicial. Considerando que um processo pode consumir R$ 50 mil a R$ 200 mil em despesas de defesa, a contratação da apólice representa economia inteligente e proteção real.
Médicos que atuam sem seguro colocam em risco bens pessoais, como imóveis e investimentos, que podem ser penhorados para pagamento de indenizações. O seguro cria uma barreira jurídica que separa o patrimônio pessoal das obrigações profissionais.
Conclusão: proteger-se é tão importante quanto prevenir
Erros podem acontecer em qualquer profissão. A diferença está nas consequências e na preparação para enfrentá-las. Enquanto gráficas lidam com retrabalho e perdas materiais, médicos enfrentam processos longos, custos elevados e desgaste emocional intenso.
O seguro de responsabilidade civil profissional não elimina o risco de erros, mas garante que o médico tenha recursos para se defender com dignidade e sem comprometer seu patrimônio. É um investimento em segurança, reputação e continuidade da carreira.
Se você atua na área médica e ainda não possui proteção adequada, avalie suas opções e consulte especialistas que entendem as particularidades da sua especialidade. A tranquilidade de trabalhar protegido vale cada centavo investido.